O Foco deste post é demonstrar o caminho percorrido entre uma ideia, passando pela atitude, chegando ao reconhecimento acadêmico e profissional. Demonstrando que uma grande ideia não precisa necessariamente estar ligada a riqueza e fortuna, mas pode estar ligada ao crescimento intelectual de uma região ou de uma nação.
A FDTK surgiu durante a elaboração da monografia da primeira turma do curso de Graduação em Segurança da Informação da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos situada no Rio Grande do Sul. A proposta inicial deste trabalho era um estudo das técnicas mundialmente utilizadas para a prática Forense Computacional com o intuito de esclarecer e desmistificar esta que é uma área ainda pouco conhecida pelos profissionais ligados a Tecnologia da Informação.
Ao longo das pesquisas ficou claro que toda investigação ou perícia, passava por quatro etapas bem definidas sendo elas Coleta, Exame, Análise e Resultados Obtidos. Entretanto, descrevê-las com riqueza de detalhes era pouco para um trabalho focado em uma área de inovação. Então surge um desafio lançado pelo orientador em um dos tantos encontros ocorridos para a discussão dos estudos, o orientador Prof. Msc. Leonardo Lemes lança um questionamento “Será que é muito difícil fazer uma distribuição Linux focada em Forense Computacional?” e de súbito uma resposta, “aviso em 12 horas se acho possível”, não podendo esquecer que não havia mais muito tempo para a entrega do mesmo.
Após as 12 horas solicitadas, uma mensagem confirmou a aceitação do desafio. A partir daquele momento, além da conclusão da pesquisa inicial, seria necessário despender longas horas de estudo e aplicação para a criação da nova distro. A ideia inicial era criar e customizar os menus de acesso às ferramentas baseado nos estudos realizados ao longo das pesquisas e definir quais ferramentas deferiam fazer parte da distro.
Para este desenvolvimento foram estudadas as 10 distribuições Linux existentes na época, que se auto intitulavam “Distribuição para Forense Computacional”. Ao longo das pesquisas foi possível detectar algumas discrepâncias em relação às ferramentas oferecidas pelas mesmas e também que a maioria delas estava desatualizada a mais de dois anos, o que na segurança é uma eternidade. Tais comprovações possibilitaram também a identificação de três problemas que de certa forma afastam muitos profissionais tanto da Segurança da Informação quanto profissionais de TI de forma geral, o profundo conhecimento de ferramentas, a barreira com o idioma e nenhuma delas sequer fazia menção as etapas envolvidas em uma perícia.
O primeiro estudo mostrou que sim, existia a possibilidade de criação de uma nova distribuição Linux focada em Forense Computacional que atendesse a estes três problemas além de possibilitar sua adoção como ferramenta para o ensino da Forense Computacional em Escolas e Universidades. A possibilidade de utilização como ferramenta de ensino em Escolas e Universidades visa preparar novos profissionais de forma conceitual e prática sobre a importância destas habilidades para o mercado.
O projeto que na etapa de conclusão foi batizado como FDTK-UbuntuBr, primeiramente tratou de identificar as ferramentas Open Source disponíveis e que faziam parte da maioria das distros estudadas. De posse de uma lista com mais de 100 ferramentas, passou-se então para a etapa de escolha da distribuição a ser utilizada como base para o projeto. A escolha da distribuição Linux foi baseada em uma serie de características tais como: regularidade no lançamento de novas versões, facilidade de utilização, disponibilidade de documentação tanto técnicas quanto de utilização e a possibilidade de efetuar as customizações necessárias entre outras.
Diante dos resultados deste levantamento minucioso ficou decidido pela utilização da distribuição Ubuntu, que de certa forma foi um desafio, pois nenhuma das distribuições existentes focadas em Forense Computacional a utilizava como base na época. Entretanto, olhando por outro foco, esta seria a primeira distribuição para Forense Computacional baseada no Ubuntu, o que também seria um diferencial e que mais tarde mostrou ser um marco em relação a distribuições com este foco, pois atualmente todas as principais distribuições mundiais como, por exemplo, Helix utilizam a Ubuntu como base.
Decididas quais ferramentas fariam parte do projeto e qual distribuição Linux seria utilizada como base, outra decisão se mostrou necessária, qual interface gráfica a ser utilizada? Novamente seguindo os conceitos utilizados para a escolha da distro, foi definido que o Gnome seria a melhor opção, pois além de uma série de qualidades esta interface é a mais utilizada no mundo.
Definições concluídas é chega a hora de iniciar os trabalhos. Os trabalhos foram iniciados pela criação dos mais de 100 scripts a serem executados quando uma das opções do novo menu dividido em etapas fosse necessário. Estes scripts são meros apontamentos para ferramentas menos conhecidas, pois as mesmas normalmente não aparecem no menu original das distribuições.
No menu do original do gnome foi inserido um grupo denominado Forense Digital. O grupo Forense Digital por sua vez foi desdobrado em quatro etapas que são coleta dos dados, exame e dos dados, análise das evidências e ToolKits. Além do menu foi necessário ainda escolher um nome para batizar a nova distribuição, pois todo e qualquer produto necessita de uma identidade. Para tanto foi escolhida uma expressão abreviada do Forense Digital Toolkit mais uma menção a distribuição que servia como base ao projeto e o idioma, ficando então FDTK-UbuntuBr.
Após muitas horas de ajustes, recompilações e teste, a versão 1.0 fica pronta a tempo de ser apresentada junto da defesa da monografia que ocorreu em 03/07/2007. Apesar de muito nervosismo e ansiedade tudo transcorreu dentro do esperado e para surpresa após a reunião do colegiado o trabalho recebeu nota máxima “Distinção” por, entre algumas características, tratar de um tema pouco conhecido, deixar um legado para a academia e apontar algumas áreas ainda carentes de pesquisa relacionadas ao tema tratado.
Não poderia deixar de ser mencionado que nos dias que antecederam a banca, surgiu também a ideia de submeter um minicurso para o SBSeg 2007, onde seriam aproveitados os estudos realizados para a construção da monografia e apresentados alguns exemplos práticos da sua utilização. Para surpresa de todos que participaram deste desafio, os professores Evandro, Marlon, Glauco, Leonardo e é claro o aluno Paulo Neukamp o minicurso foi aceito e os primeiros reconhecimentos da academia começaram a aparecer. Toda esta tempestade de boas noticias e reconhecimento fez surgir novas demandas que necessitaram de mais esforços e muitas horas de dedicação e algum investimento financeiro.
Inicialmente não foram feitos investimentos financeiros, pois os mesmos estavam escassos. Um site na web foi construído para divulgação do trabalho e um local para hospedar e distro e imediatamente iniciar o compartilhamento da mesma com a comunidade tanto científica quanto profissional foi providenciado. Site pronto e a ISO devidamente alocada em dois repositórios (codigolivre.org e Unicamp). Inicia a fase de divulgação da mesma, onde e como fazer isso? O Melhor canal para divulgação para a comunidade Linux era “Dicas-L”, que em 2007 já possuía quase 40.000 assinantes. Uma mensagem escrita pelo grande incentivador do projeto Leonardo Lemes ao amigo e mantenedor da Dicas-L Rubens Queiroz, que fez todo o trabalho de divulgação e segundo as estimativas foram mais de 7.000 downloads somente nos primeiros 15 dias após divulgação através da sua lista.
O ano de 2007 foi repleto de boas notícias, mas a mais importante foi à criação de uma disciplina no curso de Graduação em Segurança da Informação na Unisinos e a adoção da Distro FDTK como plataforma para os estudos dos alunos foi o fechamento de ouro. A adoção da distro na academia trouxe junto uma enxurrada de mensagens com dúvidas e sugestões de alunos, entusiastas da área e de profissionais que passaram a utilizá-la em seu dia-a-dia. Um ano depois é lançada a versão 2.0 com melhorias, atualizações dos pacotes e uma nova identidade gráfica agora com logo marca e detalhes personalizados.
Junto ao lançamento da segunda versão da FDTK, aconteceu um fato inusitado, o contato de um professor de Forense computacional e também perito do estado de Alagoas chamado Aderbal Botelho com a proposta de parceria, pois o mesmo ministraria um curso para uma turma de 20 alunos de um órgão Federal em Brasília. A parceria foi fechada no ato.
Neste período que segue ao lançamento da segunda versão, foram localizadas na web diversas palestras fazendo menção ao projeto e alguns trabalhos acadêmicos que a utilizaram como base em suas pesquisas.
Algum tempo passado e a versão três foi lançada e como não poderia ser diferente, quase 13.000 downloads somente na primeira semana pós-lançamento.
Os trabalhos continuam rumo a FDTK-V4…